Educação integral e seu papel na formação do aluno

Educação integral e seu papel na formação do aluno
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Desde o final do século passado, vem crescendo entre especialistas em educação o conceito de que a formação dos alunos vai muito além do aprendizado em sala de aula. É cada vez mais claro que ficar o dia todo na escola não é sinônimo de receber uma boa educação. Para uma formação global, completa, inteira — o significado mais completo de “educação integral” —, é preciso que haja preocupação com a individualidade do aluno em sua totalidade, repensando a organização de espaços e conteúdos.

No Brasil, o Ministério da Educação vem pensando isso através do Programa Mais Educação desde 2008, promovendo a ideia de que além das escolas, os pais, as famílias e as comunidades também são atores essenciais do processo educacional das crianças e dos adolescentes.

Pesquisa levantou pontos fundamentais para a educação integral

Recentemente, reconhecidas instituições relacionadas com a educação no Brasil e no mundo — Fundação Itaú Cultural, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) — realizaram uma pesquisa para levantar informações e compreender as tendências em torno da educação integral.

O estudo “Tendências para a Educação Integral”, que abrangeu 16 iniciativas governamentais e da sociedade civil, resultou em uma lista de pontos considerados fundamentais para a implementação de um sistema capaz de realizar essa educação com qualidade e eficiência. A partir do conhecimento desses pontos é possível pensar se você está oferecendo o melhor a seu filho em termos de formação acadêmica e social.

Ter projeto pedagógico bem definido

Para atingir objetivos de educação integral, é essencial pensar no processo de aprendizagem por inteiro. E isso não é possível sem a elaboração cuidadosa de um projeto político-pedagógico que preveja experiências voltadas ao desenvolvimento dos diferentes tipos de habilidades humanas: cognitivas e intelectuais, mas também físicas, éticas, afetivas e sociais.

Esse projeto também não pode ser padronizado, uma vez que cada local e cultura específica apresenta interesses, históricos e demandas diferentes que precisam ser reconhecidos e representados.

Estender a jornada escolar

Com exceção de uma minoria de instituições que oferece jornada integral de ensino, a maioria das escolas do país tem períodos letivos diários de cerca de 4 horas, um tempo que especialistas consideram insuficiente até mesmo para a transmissão do conteúdo curricular obrigatório.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases, a jornada ideal deveria ser de 7 horas. Além disso, o tempo em família, fora do ambiente escolar, também precisa ser pensado para constituir outro espaço de aprendizado.

Relacionar atividades do turno e do contraturno

Em escolas que já adotam o período integral, é usual que haja dois turnos. No turno principal, são ministradas as aulas propriamente ditas, em que são abordados os conteúdos curriculares principais, como português e matemática.

No turno oposto ao do horário de aulas, o chamado “contraturno”, são realizadas atividades mais relacionadas aos esportes e às artes. Segundo a Resolução do Conselho Nacional de Educação, de 2010, no ensino integral o estudante deve ter acesso a experimentação científica, cultura, artes, esporte, lazer, tecnologias de comunicação, direitos humanos, preservação do meio ambiente, saúde, entre outros.

Para aumentar a eficácia da aprendizagem, é muito importante que as atividades realizadas nesse contraturno estejam ligadas com os conteúdos sendo estudados na sala de aula. Não basta preencher o tempo aleatoriamente. Fazer uma relação contextualizada dos conhecimentos é a melhor maneira de se realizar um processo global satisfatório.

Integrar espaços, saberes e agentes educadores

Situar os alunos no mundo que o cerca: eis uma das melhores maneiras de tornar o processo de aprendizagem mais interessante e envolvente. Quando relaciona a alfabetização às placas de rua, processos químicos a receitas ou a arquitetura de prédios da cidade às aulas de geometria, por exemplo, a aquisição do conhecimento se torna mais natural e abrangente.

Valorizar a diversidade cultural

Embora o foco no entorno seja um dos focos da busca pela educação integral, uma visão que ultrapasse os horizontes mais próximos é chave da formação de cidadãos conscientes e preparados para exercer seu papel na sociedade.

Ter a noção da existência das muitas diferenças de pensamentos e culturas e aprender a conviver bem com elas, com respeito e tolerância é outra faceta de um ensino preocupado com o desenvolvimento global das crianças e adolescentes.

Valorizar a família e a comunidade

Outra necessidade cada vez mais apontada para a realização de um trabalho de qualidade no ensino é a da existência de um relacionamento de parceria entre as duas principais instituições da vida de crianças e adolescentes: a família e a escola.

É preciso garantir que haja uma interligação dos aprendizados ocorridos em casa e na sala de aula, em um relacionamento que se expanda também para a comunidade em que elas estão inseridas.

Fazer parcerias com a comunidade

Não é apenas em comunidades carentes que a integração entre a sociedade civil e as escolas e famílias se mostra uma fonte rica de produção de conhecimento e crescimento.

Estimular a participação de alunos das mais diferentes idades em projetos extracurriculares é uma excelente maneira de criar cidadãos integrados com suas comunidades, ampliando assim os limites de suas atuações.

A realização de eventos interescolares e intermunicipais, provocando a convivência entre alunos de diferentes comunidades e realidades sociais, por exemplo, é uma de muitas maneiras de se promover esse tipo de parceria naturalmente.

Expandir a educação para outros setores

Passear pelo centro da cidade a pé, em uma sociedade em que cada vez mais se anda de carro. Levar crianças urbanas para conhecer uma fazenda com plantações e animais.

Apresentar alunos de escolas rurais a um centro comercial de cidade grande. Visitar museus, bibliotecas, ir a uma sessão de cinema ou teatro. Tudo isso pode parecer apenas uma grande farra — e até mesmo encarado como tal por muitos alunos —, mas a verdade é que se tratam de oportunidades de aprendizagem além da sala de aula.

Um exemplo perfeito de educação integral, capaz de se relacionar com o mundo que o cerca em suas diversas apresentações.

Você percebe a aplicação da educação integral na escola do seu filho? Vê diferenças em relação ao ensino que recebeu? Participe da discussão deixando seu comentário abaixo.

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